Por Fernanda Medeiros
Recentemente foi publicado um estudo na revista científica britânica, Royal Society Open Science, onde foi concluído que 301 mamíferos, de todo mundo, estão correndo risco de entrar em extinção por conta da caça excessiva feita por humanos.
A comercialização de carne de caça e a utilização na medicina tradicional podem ocasionar a extinção de tigres, chimpanzés, pangolins (uma estranha família de animais que habita a África e Ásia), rinoceronte, lêmures, roedores, morcegos, etc.O Zoológico de Brasília trabalha com 10 espécies desta lista, são elas: Macaco-Aranha-da-Cara-Vermelha (Ateles paniscus), Macaco-Aranha-da-Cara-Preta (Ateles chamek), Ádax (Addax nasomaculatus), Anta (Tapirus terrestres), Cuxiú-preto (Chiropotes satanas), Hipopótamo-comum (Hippopotamus amphibius), Macaco-barrigudo (Lagothrix cana), Tigre (Panthera tigris), Tatu-canastra (Priodontes maximus) e Tatu-bola-da-Caatinga (Tolypeutes tricinctus).
Programa de reprodução
Além da caça excessiva, a crescente degradação ambiental devido à exploração humana descontrolada faz que com cada vez mais espécies de animais silvestres sofram com a destruição do seu habitat natural. Pensando nisso, o zoológico de Brasília possui um Programa de Reprodução, que tem como objetivo principal conservar as espécies que trabalhamos. Neste programa, já tivemos sucesso na reprodução de quatro espécies que estão nesta lista.
Em 2011, conseguimos reproduzir com sucesso um Macaco-Aranha-da-Cara-Preta. Depois desta data, ainda tivemos mais dois nascimentos: um em 2013 e o último em 2013, onde nasceu a macaquinha Sarah. A gestação desta espécie dura de 220 a 232 dias e nasce apenas um filhote. De acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o status de conservação do primata é vulnerável (Vulnerable, VU).
Em 2010, tivemos o nascimento de um Ádax (Addax nasomaculatus) e isso aconteceu mais três vezes: em 2012, 2014 e o último no dia 18 de outubro de 2015. A nova integrante do Zoo nasceu com 4,5 quilos e foi apelidada de Gaya após uma campanha nas redes sociais. O Ádax é classificado como Criticamente em Perigo (Critically endangered, CR). Um levantamento realizado em 2016 encontrou apenas três indivíduos na natureza. Felizmente, esta espécie é criada com sucesso em zoológicos e estima-se que mais de 5.000 indivíduos vivam em cativeiro. Atualmente existe um programa para reintrodução desta espécie em seu habitat natural.
Em 2010, também tivemos o nascimento de uma Anta (Tapirus terrestres). Ela é o maior mamífero terrestre neotropical, podendo medir de 200 a 220 cm e pesar até 300 kg, além de possuir tromba curta e flexível. Considerada vulnerável pela IUCN, a anta, como muitos outros animais, perde áreas de habitat com a devastação de florestas e matas. A caça para alimentação e esporte, que ocorre em algumas regiões, também a ameaça.
E em janeiro de 2015, uma fêmea de tatu-bola-da-caatinga foi trazida a Fundação Jardim Zoológico de Brasília (FJZB) e foi alocada em um recinto. Na mesma data, uma caixa de papelão com um macho da mesma espécie foi deixada na portaria da FJZB, que ao ser identificado, foi encaminhado para um recinto indoor, onde ele passou o período da quarentena. Em março, os animais foram aproximados e alocados no mesmo recinto. No mês de setembro, do mesmo ano, foi observado um filhote de Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) no recinto, ainda com os olhos fechados e sendo carregado pela mãe. Infelizmente este filhote veio a óbito por morte súbita, porém a equipe do Zoo continua trabalhando e confiando em um breve sucesso reprodutivo da espécie.
O tatu-bola-da-Caatinga enfrenta grave ameaça da caça e destruição e fragmentação do habitat por fazendas, estradas e construção de parques eólicos. O Zoológico de Brasília é o único zoo no mundo a criar e trabalhar com um casal desta espécie, e tem participação ativa em estudos sobre o seu comportamento e conservação.
Zoológico: um grande aliado na conservação de espécies
Um dos papéis dos zoológicos é promover um ambiente adequado aos indivíduos que não tem condições de permanecer na natureza e às espécies que estão sofrendo ameaça pela dificuldade de se manter em ambiente natural. Essa conservação, conhecida como ex situ, tem o objetivo de desenvolver estratégias para conservar e recuperar a fauna, proporcionando condições adequadas de vida e reprodução para perpetuação das espécies, devolvendo-as em locais nativos com condições mais propícias.
Para evitar maiores perdas de biodiversidade, é necessário direcionar esforços para um amplo escopo de ações, tanto no ambiente natural, com a criação ou ampliação de áreas protegidas, quanto nos zoos, com a reprodução em cativeiro e manutenção de populações saudáveis que possam ajudar seus parentes selvagens por meio de reintroduções.
Visando maximizar os resultados, equipes técnicas do Zoo Brasília, se preocupam em promover uma melhor qualidade de vida com adequações no manejo, nutrição, ambientação dos recintos, acompanhamento veterinário, condicionamento, entre outras atividades que favorecem o bem-estar animal.
O maior obstáculo para o avanço de todo este trabalho, no entanto, é garantir que esses animais tenham um habitat para o qual possam voltar à natureza. Este deve apresentar capacidade para sustentá-los com alimento, abrigo e – o mais importante – sem o risco de serem feridos ou mortos por armadilhas e caçadores. Atuar para que isto aconteça pode parecer um desafio imenso, ainda mais quando descobrimos que a Mata Atlântica perdeu 97% da sua extensão e o Cerrado, 50%, mas é uma missão que a FJZB e outros zoológicos estão determinados a enfrentar. Afinal, o ar que respiramos, o solo onde plantamos e a água que bebemos dependem da saúde de um planeta com diversidade de espécies. Salvar animais ameaçados não é apenas um mero trabalho, é um ato pela sobrevivência da própria humanidade.
Fundação Jardim Zoológico de Brasília
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